Você já deve ter assistido algum filme em que prisioneiros, ou guerrilheiros, ou mutantes, ou qualquer outro grupo pessoas com modo de vida hostil tenha de ficar em uma ilha até que apenas um indivíduo sobreviva, certo? Battle Royale é um desses. Mas de uma maneira um tantinho mais original: o que você faria se o grupo convocado fosse a sua turma de formatura do ensino médio?
Battle Royale ultrapassa a barreira do "terror à sangue frio" e passa ao terror psicológico, do qual eu não exageraria se eu dissesse que atinge certas particularidades ou intimidades. Pensemos no garoto gordinho que sofria bulling nos primórdios dos tempos colegiais; ou na menina tímida que queria passar despercebida, mas era zombada pelo tamanho ou pelo jeito de ser; pensemos nos superprotegidos pelos pais com algum tipo de influência social... e assim por diante. A obra passa a refletir sobre o impacto social e as consequências de quem fomos e somos.
As origens do filme são interessantes. Battle Royale foi, primeiramente, um livro de 1999, escrita pelo japonês Koushun Takami. Em 2000 o filme estava lançado, quase na mesma época do mangá. É claro que mangá e livro superam filmes por poderem se ater a detalhes e especificações, mas quem leu pelo menos um dos dois privilégios conseguirá compreender melhor algumas ações (ou seu resultado) no filme. (Particularmente, li o mangá e assisti ao filme, até dando umas pausas pra reconhecer os caras. E gostei de fazê-lo.)
O enredo
(Ah, sim. Para que eu fale do enredo já digo que não se preocupem, não usarei cenas de mal gosto. Pelo menos eu tentarei.)
Num futuro breve, parte do Japão separou-se e tornou-se a República do Leste Asiático. O autoritarismo tomou conta da sociedade, proibindo expressão gratuita como Rock, festas e a maioria dos hábitos juvenis. A rebeldia ainda existe, mas é menos explícita. Para que as turmas escolares se portem de maneira civilizada, o Governo da RLA criou "O jogo", onde as turmas formandas são sorteadas para uma ilha em que só haverá um vencedor, e este deverá ser o único sobrevivente.
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Isso não é TeleCurso!
Não haverá revisão! |
As regras:
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Aqueles que protestaram ou que simplesmente se recusaram
a ouvir as regras não precisaram participar do jogo |
1 - Qualquer coisa vale para matar um colega.
2 - Cada participante ganhará uma mochila com ração, água, um mapa e uma arma aleatória.
3 - A ilha é dividida em quadrantes. Uma coleira está no pescoço de cada participante, que explode se ele pisar em um "quadrante proibido". Os quadrantes proibidos são anunciados pelos auto-falantes da ilha.
4 - Se ninguém morrer em 24 horas consecutivas ou se houver mais de um sobrevivente dentro de 72 horas, todas as coleiras explodem.
5 - A ilha era anteriormente habitada, então os jogadores têm livre acesso à casas, galpões e tudo que encontrarem. Porém, microfones e câmeras existem ao longo da ilha, para que tanto governo quanto população assistam ao jogo.
6 - Se as coleiras enviarem sinal de apenas um sobrevivente, esse será o vencedor.
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Noriko e Shuya jogando |
Da turma selecionada, pode-se destacar alguns:
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Shuia e o sangue de seu amigo
sobre o uniforme |
Shuya Nanahara (roqueiro e protagonista da história). O melhor amigo de Shuya morre às vésperas do jogo, numa demonstração de como as coleiras explodem. Antes da morte, ele conta a Shuya que era apaixonado por Noriko, uma jovem colega. Quando o jogo começa, Shuya encontra
Noriko e a ajuda por um tempo. Após alguns conflitos com outros colegas, eles encontram
Shogo Kawada, que por ironia do destino havia sido o vencedor d'O Jogo anos atrás. Shuya foi contemplado com uma tampa de panela como arma. Noriko com uma faca, e Shogo com uma espingarda calibre 12mm.
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Shogo Kawada
O homem com a experiência |
Shinji Mimura (jogador de basquete, pegador). Shinji é um dos melhores esportistas e teve problemas com os colegas de time, sempre pensando ser o jogador da vez. No jogo, Mimura encontra seu melhor amigo e confecciona uma bomba para explodir a base governamental da ilha, para que o jogo acabe antes que mais colegas se matem.
Hiroki Sugimura (lutador de kenpô, pacifista). Sugimura é calado, mas sempre um bom amigo da turma. Embora tenha ganhado uma pistola, no mangá confeccionou mais algumas armas, como um bastão (retirado de uma vassoura) e lâminas esculpidas em madeira.
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Kiriyama no mangá oficial de Battle Royale |
Kiryiama - o personagem mais polêmico na adaptação mangá-cinema. O Kiryiama do mangá é um misterioso super-dotado e líder de uma violenta gangue, que resolve o que fazer quanto ao jogo com um lance de uma moeda (se desse "cara", reuniria sua gangue e derrubaria a sede do governo na ilha; se desse "coroa", jogaria O Jogo sem piedade). Já o Kiriyama do filme entra na turma voluntariamente para jogar. Ambos ganham uma submetralhadora Ingram e muitos cartuchos, além de matar alguns dos que possuem mais armas de fogo.
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Mitsuko usando suas armas
(no mangá) |
Mitsuko Souma (prostituta e líder da gangue das garotas). Souma usa sua fama de perversa para assustar as meninas e a fama de prostituta para atrair os rapazes para suas armadilhas. Sua arma aleatória é uma foice e ela promete ser o "anjo da morte" do Jogo.
Além de toda a onda de terror tocada pelos antagonistas, ainda há o suspense das pessoas confiáveis e das neutras. As pessoas em dúvida quanto as reações das outras ante uma situação como a que o jogo as coloca traz à tona tudo o que significaram desde o primórdio da vida estudantil.
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Mitsuko Souma... |
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...satisfeita com a situação dos colegas... |
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A amizade vencerá
as regras do Jogo? |
Tampouco filme, nem mangá chegam a fazer considerações sobre o autoritarismo ou a ditadura, mas coloca em xeque questões existenciais e reflexões morais sobre a amizade, a confiança e, sobretudo, as consequências de sua imagem para o grupo de colegas e amigos. Pessoas que nunca conversaram, pessoas que sempre se falaram, rivais em competições, tímidos, prepotentes, todo o tipo de aluno... o que nos leva a pergunta: e se fosse com você e a sua turma de ensino médio?
Embora seja um tanto contraditório, o número de pessoas que se apaixonou pelo suspense, a ponto de procurar o livro, que só tem versões em Japonês, Inglês americano, Inglês britânico e Alemão. Por outro lado, o mangá teve tradução para mais de 60 países, incluindo o Brasil, pela Conrad editora, que teve problemas administrativos pouco antes o encerramento do mangá, de 15 edições.
Já o filme teve um empurrãozinho da Visual Filmes, com um excelente trabalho de dublagem (considerando as dificuldades na adaptação de vozes, tempo e conteúdo), como também o trabalho da legenda.
É inevitável mencionar o filme sem tocar no mangá, por questões de diferença, embora a história básica seja a mesma. Alguns nomes foram trocados, além das histórias paralelas não poderem ser completamente exploradas. Não recomendo esse filme a pessoas com problemas de coração, pessoas que não podem ver sangue e pessoas que tiveram os estudos de Ensino Fundamental e Médio como o meu.
Bem... por agora isso é tudo. Bons sonhos.